Plantas Geneticamente modificadas – histórico e evolução

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É inegável que as plantas geneticamente modificadas vieram sanar vários problemas do campo. Também, trouxeram disputa de opiniões, e movimentos de consumidores em busca de esclarecimento e manutenção de direitos de informação.

E você? O que você pensa a respeito das plantas geneticamente modificadas? Você é daqueles que não se importa com o que vai para a mesa de sua família no que tange a presença da tecnologia ou não? O você é do time dos orgânicos, que prefere não consumi-los?

Para você que ainda não se posiciona, ou mesmo você que já tem a opinião formada, evite tropeços por falta de informação. Acompanhe na íntegra esse artigo e entenda o histórico, a definição de conceitos e a evolução dos denominados transgênicos alimentares.

As primeiras plantas geneticamente modificadas

A partir da década de 1990 o setor agrícola brasileiro foi impactado pelo processo de globalização com a chegada de empresas multinacionais. Dentre elas, algumas detinham capacidade técnica para a iniciar os trabalhos com plantas geneticamente modificadas em terras tupiniquins.

Com a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares (Lei nº 9457/1997) essas empresas estavam asseguradas do retorno financeira gerado pela criação de novas cultivares. E as pesquisas com plantas melhoramento genético de plantas ganharam força.

Em 2003 foi aprovada a Lei nº 10.814/2003 que permite a liberação comercial de OGMs, fato que favoreceu o desenvolvimento de novas cultivares geneticamente modificadas. Com a promulgação da Lei de liberação dos OGMs, em 2005, diversas empresas mudaram a base genética para cultivares transgênicas.

Com os incentivos e o rendimento dos recebimentos dos royalties, empresas vem investindo em técnicas biotecnológicas para criação de novas tecnologias para serem inseridas em suas cultivares.

E o uso de sementes ou organismos geneticamente modificados (OGM) vem sendo amplamente aceito pelos produtores rurais e seu uso continua em franco crescimento e aceitação ao longo dos anos e safras.

Organismos geneticamente modificados (OGMs), Transgênicos e Cisgênicos: Qual a diferença entre eles?

OGMs: Segundo a Lei de Biossegurança (11.105/05), OGM é um indivíduo que por meio de técnicas de engenharia genética teve seu material genético modificado. Podendo ou não ter inserção de genes exógenos aos do organismo.

TRANSGÊNICOS: Um organismo é considerado transgênico quando existe a adição de genes exógenos, ou seja, de uma espécie não compatível sexualmente com o organismo alvo.

CISGÊNICOS: É um organismo que passou por um procedimento utilizando a tecnologia do DNA recombinante, mas os genes inseridos são de espécies que podem ser cruzadas naturalmente. 

Portanto, todo transgênico é um OGM mas nem todo OGM é um transgênico!

Por que desenvolver cultivares de plantas geneticamente modificadas?

São diversos os problemas que vem afetando a sobrevivência da vida na Terra: fome, doenças, problemas climáticos. A biotecnologia, por missão, encontrar formas de minimizar esses efeitos.

Quanto à promoção de segurança alimentar, um dos principais objetivos é o desenvolvimento de cultivares resistentes ou tolerantes aos diversos estresses bióticos e abióticos que vem assolando a produção agrícola mundial.

O desenvolvimento de plantas resistentes tende a promover menor uso de produtos químicos e assim melhorar a qualidade dos alimentos.

Como são desenvolvidos organismos transgênicos

Antes de falarmos sobre o desenvolvimento de transgênicos deve-se ter em mente que eventos transgênicos não são exclusivos de manipulação em laboratório. São encontrados de forma natural no meio ambiente, como é o caso da bactéria Agrobacterium tumefasciens a qual transfere genes naturalmente sem interferência humana. E a partir dessa observação ela passou a ser utilizada para transformação de plantas em laboratório.

Para a criação de transgênicos 6 passos básicos dever ser levados em consideração, segundo o CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia):

  1. Identificação e isolamento: Identifica-se um caracter de interesse para a planta alvo e depois seleciona-se os genes relacionados à essa característica;
  2. Transformação: Inserção do gene de interesse no genoma do indivíduo que será transformado. As técnicas mais comuns são biobalística e transformação por Agrobacterium tumefasciens;
  3. Seleção: Identificação das células que foram transformadas;
  4. Regeneração: Obtenção da planta completa a partir da célula transformada;
  5. Testes de biossegurança: Avalia a segurança da planta transgênica para a saúde humana, animal e meio ambiente;
  6. Aprovação: Realizada pelo CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança).

Players do mercado de sementes de plantas geneticamente modificadas

Após a criação do organismo geneticamente modificado, têm-se alguns “personagens” envolvidos na comercialização dessas sementes.

– Obtentor da biotecnologia: Proprietário do evento biotecnolgógico (trait). O mesmo tem o direito à patente.

– Obtentor do germoplasma: Proprietário da cultivar, amparado pela lei de proteção de cultivares.

– Multiplicador de sementes: Autorizado a multiplicar e comercializar as sementes.

– Canais de distribuição: Intermediário de vendas, como por exemplo, revendedoras.

– Produtor: Usuário final do produto.

Fonte: TMG

Distribuição do cultivo de transgênicos: Panorama mundial

O país com maior número de lavouras transgênicas são os Estados Unidos com 75 milhões de hectares. O Brasil ocupa a segunda posição, seguido de Argentina, Canadá e Índia.

Introdução de traits na soja

Ao longo dos anos o cultivo da soja foi ganhando espaço no mercado mundial e, atualmente, a soja é uma das culturas agrícolas com maior expressão na economia mundial e brasileira.

Diante da importância econômica e social da cultura, diversas empresas de melhoramento visam aprimorar e desenvolver cultivares mais produtivas. Uma das formas de gerar competitividade entre as cultivares é a criação de eventos transgênicos para inclusão de genes que promoveram a introdução de características desejáveis àquela nova cultivar.

Na tabela abaixo, são descritos os principais eventos transgênicos desenvolvidos por multinacionais que operam no Brasil.

Tabela 1: Eventos transgênicos desenvolvidos para soja*

Evento Atuação Empresa desenvolvedora Ano de aprovação no Brasil
Roundup Read ® – RR1 Tolerância ao herbicida glifosato   Monsanto 1998
Cultivance ® Tolerância a herbicidas do grupo das imidazolinas   Basf e EMBRAPA 2009
Liberty Link ™ Tolerância ao glufosinato de amônio   Bayer CropScience 2010
Intacta RR2 PRO® Resistência à lagartas e ao glifosato Monsanto 2010
Enlist E3® Tolerância ao glifosato, glufosinato de amônio e 2,4-D   Dow Agroscience e MS Technologies 2015
HPPD Tolerância aos herbicidas inibidores da enzima 4-hidroxifenilpiruvato dioxigenase (HPPD)   Syngenta e Bayer CropScience Aprovação pelo CTNBio em 2015
Intacta 2Xtend® Tolerância ao Dicamba Bayer-Monsanto Previsão de lançamento para 2021

Fonte: Adaptado de Fundação MT (2014); Silva et al. (2017).

*Precisa realizar a detecção de algum(s) desses eventos em sua produção? Clique aqui e saiba mais.

Perspectivas do uso de OGMs

Inicialmente os primeiros organismos geneticamente modificados que foram desenvolvidos tiveram foco em adicionar traits relacionados à melhoria de desempenho da cultivar em campo, por meio da introdução de genes que conferem tolerância a herbicidas e resistência a pragas.

Portanto, foram adicionadas características que promoveram maiores produtividades, junto com redução do número de aplicações de defensivos agrícolas que consequentemente diminui o uso de água e combustível.

Com a segunda geração de transgênicos, além de continuar buscando por cultivares mais adaptadas a condições adversas, há a perspectiva em lançamento de cultivares biofortificadas, ou seja, que apresentem melhoria do conteúdo nutricional, na composição de bioativos e conservação pós-colheita.

Além dos benefícios para a alimentação por meio de alimentos biofortificados, o enriquecimento de sementes com micronutrientes tende a promover aumento da produtividade e redução do uso de adubação, diminuindo os custos de produção.

Portanto, a engenharia genética, quando utilizada de forma correta e segura, obedecendo às normas de biossegurança, tem potencial para garantir aumento da produtividade, melhorar a qualidade nutricional dos alimentos e resguardar o meio ambiente.

Conheça também nosso artigo sobre: PLANTAS TRANSGÊNICAS: CONCEITOS E VANTAGENS DA TECNOLOGIA QUE VEIO PARA FICAR

Fontes de pesquisa

AUDIÊNCIA PÚBLICA COMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA, ABASTECIMENTO E DESENVOLVIMENTO RURAL, TMG.

BRASIL. Lei n° 9.456, de 25 de abril de 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9456.htm

COMISSÃO TÉCNICA NACIONAL DE BIOSSEGURANÇA – CTNBio.

FUDAÇÃO MT – FUNDAÇÃO DE APOIO À PESQUISA AGROPECUÁRIA DO MATO GROSSO. Boletim de pesquisa da soja. Rondonópolis, MT: Fundação MT, 2014. 346p.

MARQUES JUNIOR, E. ; LORENZONI, R.M. ; ROSADO¹, C. C. G. ; SOARES, T.C.B. Alimentos biofortificados: o futuro da alimentação mundial. In: NICOLI, C.T.; et al. (Org.). Semana Acadêmica de Agronomia. 1ed. Alegre: UFES, 2017, v. 1, p. 116-144.

SILVA, F.C.S.; SEDIYAMA, T.; OLIVEIRA, R.C.T.; BORÉM, A.; SILVA, F.L.; BEZERRA, A.R.G.; SILVA, A.F. Importância econômica e evolução do melhoramento. In: SILVA, F.; BORÉM, A.; SEDIYAMA, T.; LUDKE, W. (Eds.). Melhoramento da soja. 1ed. Viçosa, MG: Editora UFV, 2017. p. 9-29.


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